Nos últimos três anos, o crescimento mundial sofreu forte desaceleração conforme mostra o comunicado à imprensa do Wold Bank. Apesar disso, projeções da United Nations (UN) (2022) mostram um crescimento praticamente linear da população mundial nos últimos 100 anos, atingindo 7,8 bilhões de pessoas no ano de 2022. O mesmo órgão mostra que o número de nascimentos por mortalidade só se inverterá a partir do ano 2100. Com esse crescimento exacerbado, a quantidade de resíduos produzidos segue uma tendência ainda pior. No futuro, projeta-se que os resíduos globais cresçam para 3,40 bilhões de toneladas até 2050, mais que o dobro do crescimento populacional no mesmo período (Word Bank, 2022). Em relação ao Brasil, estima-se que a quantidade de resíduos sólidos urbanos gerados diariamente gira em torno de 226,0 mil toneladas, conforme dados de 2021 da ABRELPE, 2021.
Todos os setores sociais, de forma direta ou indireta, geram resíduo, seja ele o resíduo sólido urbano (RSU), o esgoto, os rejeitos advindos da agricultura, pecuária e processos industriais essenciais para a sobrevivência e consumo humano. No ensejo desse contexto, é inerente inferir que a destinação final de resíduos por si só já não basta para que o consumo humano se perdure. É nessa conjuntura que emergem conceitos como economia circular a qual visa substituir a predominante economia linear.
Conceituar essa transição e denotar que os resíduos gerados devem ser reaproveitados é relativamente trivial. O verdadeiro desafio está em como realizar esse reaproveitamento e é nesse cenário que a inovação e a valoração se inserem.
Por definição a palavra inovação é “criar algo novo” e etimologicamente, o termo tem origem no latim e significa “mudar, renovar”. O filósofo e educador contemporâneo Mário Sérgio Cortella acrescenta ao significado explicitando que “inovar nem sempre é criar algo inédito, mas, por vezes, é dar vitalidade ao antigo”.
Percebe-se, portanto, que a palavra inovação pode ser polissêmica, mas, arraigada ao termo, encontra-se o vocábulo “valoração”. A valoração, por sua vez, sugere atribuir valor a algo que antes não tinha. É diferente de “valorização” visto que essa diz respeito a alterar um valor já predefinido. Tal diferença denota, então, como o “valorar” reitera o “inovar” pois dar um valor a algo nunca antes definido demanda uma inovação.
Vicente Falconi discorre em seu livro “Gerenciamento da Rotina” sobre a importância de se gerenciar com um olho nas melhorias contínuas e outro nas melhorias drásticas. A melhoria contínua é essencial para fazer com que a engrenagem sistêmica continue girando por um tempo, mas é a melhoria drástica que garante o crescimento e a perduração da empresa ao longo dos anos principalmente na contemporaneidade, dado que há uma imensa mutabilidade de produtos, materiais e ideias.
O âmbito do gerenciamento de resíduos é um dos setores no qual a inovação e a valoração fazem mais sentido, visto que as explanações supracitadas denotam um futuro onde a falta de recursos será apenas uma das problemáticas e a transformação do resíduo em um produto ou matéria-prima pode atenuar consideravelmente tal fato.
No que tange ao amanhã, é importante salientar que os problemas devem ser encarados como oportunidades. “Oportunidade”, do latim, ob portus, que transliterado para o português é “para o porto”, era o nome dado a um vento específico. Os navegadores do mundo antigo utilizavam essa expressão quando o vento soprava o barco em direção ao porto, facilitando a navegação. De forma análoga, é preciso aproveitar o cenário atual para ser inédito – ou, na voz de Cortella, dar vitalidade ao antigo – seja na forma de produzir, processar, beneficiar ou estar ao menos pronto para quando a oportunidade vier, afinal, a viabilidade de um projeto é meramente circunstancial (o que não é viável hoje pode o ser no amanhã).
Em todo esse pano de fundo é impossível não lembrar a instituição Marca Ambiental e os parceiros do Parque de Ecoindústrias que são pioneiros no assunto. Estar a todo o momento prospectando tecnologias, realizando testes e buscando com afinco conhecimento para uma aplicação disruptiva são ações quase únicas e exclusivas. Observando a obtenção de energia elétrica a partir do biogás, da transformação da escória e resíduos de construção em pavimentação e do lixo orgânico sendo convertido em fertilizante, só posso concluir que a atividade fim da empresa não é dar o destino final dos resíduos, mas sim dar valor ao invalorável!
É necessário inovar para valorar e beneficiar para transformar. Aprender também é desaprender para reaprender de formas diferentes e, como Marca, “eu me construí como fazedor disso, e quero me manter nessa feitura, de modo que eu possa continuar me fazendo. Deixar de fazê-lo agora seria me desfazer”.