Você sabia que a maioria das ações humanas estão relacionadas a emissão de gases de efeito estufa? O simples fato da leitura deste artigo está gerando emissões de carbono associadas ao consumo de energia elétrica do seu computador, por exemplo. A fabricação do seu computador, inclusive, foi responsável pela emissão de alguns desses gases, mas não se preocupe, em breve abordaremos sobre como calcular essas emissões e como fazer para minimizá-las. O mais importante aqui é estar consciente de que essas emissões existem. 

Ignorar a existência de um problema não faz com que o mesmo deixe de existir. É justamente com base nessa consciência que a maioria das empresas têm direcionado seu olhar para os Inventários de Gases de Efeito Estufa e, com base nesses inventários, buscado formas de minimizar essas emissões. Não é um trabalho fácil, porém é um trabalho necessário!

O Inventário de Gases de Efeito Estufa de uma empresa consiste em um relatório com as estimativas das emissões de gases poluentes gerados em decorrência das atividades desta empresa. As emissões podem ter origem na combustão móvel, provenientes do setor de transporte desta organização. Existem ainda as emissões geradas pela combustão estacionária, a qual considera a queima de combustível em equipamentos industriais como geradores e caldeiras. Nas emissões fugitivas são considerados os gases de refrigeração e de extintores de incêndio.

O lixo produzido pela empresa, após passar pelo processo de decomposição, emite gases e estes são contabilizados nas emissões de resíduos sólidos. Além disso, são estimadas as emissões geradas pelas mudanças no uso do solo, causadas durante a remoção da vegetação. As emissões geradas pelo consumo de energia elétrica também podem ser calculadas, além de muitas outras fontes de emissões que podem ser estimadas de acordo com a abordagem adotada pela organização.

Como é feito o inventário?

Muito se fala sobre o dióxido de carbono, o famoso CO2, mas ele não é o único gás responsável pelo efeito estufa. Existem outros gases envolvidos nesse processo, inclusive gases com Potenciais de Aquecimento Global (PAG) maiores do que o do CO2. Entretanto, como o dióxido de carbono já está bem difundido, ele é utilizado como métrica, e os demais gases de efeito estufa são convertidos em toneladas de carbono equivalente (tCO2e). Isso é realizado com objetivo de concentrar as emissões em uma única unidade. Na tabela a seguir é possível observar alguns dos principais gases de efeito estufa, o PAG associado e as principais fontes de emissão desses gases.

 

Tabela 1 – Gases de efeito estufa. 

Adaptado de GHG Protocol (2021)

 

De posse da Tabela 1, vamos agora para um exemplo prático. Imagine que o consumo anual de gasolina em uma empresa seja de 100.000 litros. Esses 100.000 litros de gasolina, após passarem pelo motor de combustão, geram 161,48 toneladas de dióxido de carbono (CO2), 0,06 toneladas de metano (CH4) e 0,02 toneladas de óxido nitroso (N2O). Para estimar as emissões em toneladas de carbono equivalentes (tCO2e), basta multiplicar os valores anteriores pelo seu PAG correspondente. Observe a seguinte equação:

tCO2e = tGEE x PAG

Na qual:

tCO2e = toneladas de carbono equivalentes

tGEE = toneladas do gás de efeito estufa

PAG = potencial de aquecimento global

 

Os valores em tonelada de carbono equivalente (tCO2e), obtidos por meio da equação, são apresentados na Tabela 2.

 

Tabela 2 – Dados utilizados para o cálculo das emissões em tCO2e

 

Por meio dos cálculos foi possível estimar as emissões provenientes do consumo de combustível da empresa em 168,94 tCO2e (Tabela 2). Mesmo sendo possível realizar algumas estimativas de forma simples, para outras são utilizados cálculos mais complexos e bancos de dados maiores, o qual requerem o uso de ferramentas de cálculo.

Uma ferramenta amplamente utilizada para elaboração do Inventário de Gases de Efeito Estufa das empresas é o GHG Protocol. Nesta ferramenta estão disponíveis planilhas de cálculo que convertem as variáveis de entrada em toneladas de carbono equivalente (tCO2e) com base nos fatores de conversão pré-estabelecidos. Com essa ferramenta em mãos, o trabalho do analista consiste em identificar as possíveis fontes de emissão, rastrear a localização dos dados, obter a base de dados e fazer o refinamento destes para que estejam adequados para serem inseridos na ferramenta de cálculo. 

Geralmente as bases de dados são obtidas no Enterprise Resource Planning (ERP), que consistem em um sistema integrado que gestão empresarial o qual relaciona todos os dados e processos de uma organização em uma única plataforma. De posse da ferramenta de cálculo e do banco de dados é possível estimar as emissões e elaborar o Inventário de Gases de Efeito Estufa. 

Como minimizar as emissões?

A partir do mapeamento das fontes e estimativas das suas respectivas emissões de gases de efeito estufa, é possível realizar uma auto avaliação e direcionar a tomada de decisões dentro da empresa com base em metas, tanto econômicas, quanto ambientais, com foco no aumento da eficiência dos processos e no uso racional de insumos. Os planos de ação devem priorizar as atividades mais impactantes e passíveis de reestruturação.

Desta forma, uma empresa que percebe como principal fonte de emissão o consumo de energia elétrica, pode criar planos de ações para reduzir esse consumo. Isso pode ser realizado através da manutenção preventiva de equipamentos para aumentar sua eficiência e diminuir o tempo de operação e, consequentemente, diminuir o consumo de energia. Também podem ser instalados sensores de presença que ligam as luzes apenas quando existe uma pessoa naquele ambiente. Outro plano de ação pode ser realizado com os próprios colaboradores por meio de campanhas que conscientizem sobre a importância de minimizar os desperdícios de energia, lembrando-os de sempre desligarem as lâmpadas, computadores, ares-condicionados e demais equipamentos que não estiverem sendo utilizados.

Vale ressaltar a importância de outras ações que auxiliam na redução do efeito estufa. A reciclagem e a diminuição da produção de lixo possuem papel fundamental. Além disso, a preferência por biocombustíveis e a adoção de ações que reduzem o uso de combustíveis fósseis podem auxiliar na conservação do planeta. É um trabalho que depende de todos, e seus benefícios, por consequência, podem ser usufruídos por todos também.  

As fontes de poluição são muitas, mas o planeta é um só! Vamos juntos contribuir para sua conservação?

 

Referência:

GHG Protocol (2021). Disponível em: <https://ghgprotocol.org/>